A época balnear abriu no primeiro dia deste mês. A novidade este ano é que, eventualmente, lá hão-de aparecer os tais agentes da polícia marítima e com eles as propaladas novas leis que vão reger o comportamento dos veraneantes. Logo para começar, deve ser lixado para os gajos da Polícia Marítima que, em pouco tempo, passam, pelo menos de forma mais visível, de indivíduos que operavam em alto mar, à procura de traficantes de droga, cargueiros de tráfico humano e navios de piratas bérberes, para indivíduos que passam multas a quem for tomar banho quando não podia. Depois, é triste quando o mundo chega a um ponto em que é preciso punir monetariamente as pessoas para as impedir que, de tão estúpidas que são, se matem sozinhas. Foi por isso que, por exemplo, aqui há não sei quanto tempo, se começou a multar quem não usa capacete. O capacete passou a ser obrigatório porque, basicamente, havia muita gente que o dispensava e depois abria a cabeça. E às vezes até morria e assim essas coisas graves. Para muita gente, essa gente, parece que não houve evolução entre a infância e a idade adulta. Quando somos miúdos é que os nossos pais, fartos de nos dizer para não metermos um garfo nas tomadas, nos castigam com a privação de coisas. Gelados, chocolates, brinquedos e visionamento de bonecos, basicamente. Porque quando somos pequenos, a expressão “olha que isso faz-te mal” não faz sentido nenhum. Não se consegue processar essa informação. Para as pessoas que preferem andar sem capacete, a polícia acaba por ser um equivalente dos pais. Fartos de lhes dizer para não andarem sem capacete que ainda se aleijam, resolveram começar a cortar-lhe a mesada sempre que os vissem sem a protecção oval para a cabeça. A essência da multa é esta mesmo: “se és tão estúpido para perceber que o capacete é para o teu bem, começas a ficar sem dinheiro sempre que te apanharmos nesses propósitos nada seguros”. Para, assim, a associação entre “fazer isto” – sendo “isto” uma estupidez qualquer – e “acontecer aquilo” – sendo “aquilo” algo que o indivíduo facilmente percepciona como negativo – ser mais visível, mais imediata e palpável. É como aquelas experiências em que dão choques eléctricos aos macacos para eles aprenderem a fazer as coisas como deve ser. Pessoalmente, nada tenho contra esta forma de controlo e educação. Embora ache que a punição daqueles espécimes bem específicos que, quando andam de motorizada, não usam capacete mas tomam a absurda opção de o levar no braço, devesse ser bem mais pesada. Talvez qualquer coisa que envolvesse picaretas e rótulas ou qualquer outro osso relacionado com articulações. Ou que envolvesse uma faca serrilhada. Em vez das picaretas, claro. O mesmo se aplica àqueles que, também não levando capacete, levam um palito no canto da boca. E, aproveitando o balanço, àqueles que usam o acto de andar de mota sem capacete como um substituto funcional do secador.
A lógica que sustenta as multas nas praias é idêntica. Há pessoas para quem um maremoto não é impeditivo de uma nadadura e uns mergulhos. Há pessoas que até acham que a digestão é uma coisa que não existe, que não passa de um mito criado para, mantendo a populaça temente, servir sabe-se lá quem. Aliás, quando dizem a alguns banhistas, directa ou directamente, que não se pode ir, é quando eles querem ir mesmo. E este é um comportamento bastante comum
said...
Obviamente que a opção do capacete no braço poderá parecer completamente anormal À primeira vista. No entanto, existe uma explicação para esse comportamento: o capacete no braço tem como propósito a protecção dum cotovelo do individuo motociclista, pois a dor de cotovelo é das dores que mais aflige as pessoas e a humanidade em geral, logo deverá ser evitada sempre que possível.