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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Verdades absolutas sobre basicamente tudo.
All great truths begin as blasphemies.
Nem mais. Porra. 

31 de maio de 2006

Incómodos da Modernidade (IV): No supermercado

Round one

Acontecem coisas estranhas nos supermercados. É assim uma espécie de enclave social, único local onde certas coisas parecem acontecer e fazer sentido. Por exemplo, atracções momentâneas podem desvanecer num ápice. Tenho encontrado raparigas airosas nos corredores dos dois ou três supermercados que frequento. Imagine-se então a rapariga, extremamente jeitosinha, mas, ao mesmo tempo, com uma irresistível aura terra-a-terra. Vemo-la e adoptamos o único comportamento natural e aceitável.
Perseguimo-la. Para ela pensar que, se calhar, temos muito em comum. Afinal de contas, frequentamos os mesmos corredores no supermercado. Só que a rapariga que perseguimos durante quatro corredores, deixa de ser tão apelativa e atraente no preciso momento em que se aproxima da promoção da Renova e decide levar 20 rolos de papel higiénico que, naquela semana, estão a um preço simpático. Lá se vai a magia. Faz-me confusão ver as pessoas a levarem 20 rolos de papel higiénico. Há uma razão para os rolos de papel higiénico estarem sempre num canto recôndito do supermercado. Ninguém quer ser visto a levar papel higiénico. Não sei porquê, nem quando começou, mas sei que é assim. Eu já vi a Alcina Lameiras a comprar papel higiénico. E mesmo eu, indivíduo respeitador do espaço e opções de cada um, não pude deixar de lançar aquele olhar “ah, és famosa… tens jeito para slogans e tudo… mas a verdade é que também… coiso, como toda a gente.”. Parece que, não levando papel higiénico, ficamos num patamar valorativo bem acima de quem leva papel higiénico. Naquele momento, eu senti-me, em todos sentidos, “mais” que a Alcina Lameiras. Eu era superior. Por incrível que pareça, não fui dilacerado por uma possível imagem mental da Alcina Lameiras a usar aquele mesmo papel higiénico que eu a estava a ver comprar. Nada disso. Senti-me apenas muito superior. Confiante. Mais forte. Se, como dizem os peritos, ouvir o “Eye of the Tiger” antes de uma luta nos capacita de 35% de força extra, então, ver alguém comprar papel higiénico, ainda por cima uma celebridade, dá um capital de superioridade sobre a pessoa em causa que deve rondar os 400%. Ou mais.

Mas, como é óbvio, já me vi no lado de lá. Uma vez, ou não fosse eu uma das pessoas mais avarentas a nível mundial, queria aproveitar a promoção, não da Renova, mas de outra qualquer marca do género. Eram, também, uns 20 rolos de papel higiénico, e a apenas 2,5 euros. E, por acaso, até acho que era daquela mariquice de folha dupla e de suavidade extrema. Nem fazia questão que assim fosse. Por menos 50 cêntimos, de bom grado me contentaria com qualquer coisa cuja textura se situasse algures entre uma folha de cartolina e uma lixa. Mas até era daquele caro. Do bom. Dois euros e meio por 20 rolos. Como não aproveitar? Fui lá de propósito. Quando peguei nos 20 rolos é que m’apercebei da tragédia iminente: “Caraças, não posso sair daqui só com 20 rolos de papel higiénico! Tenho que os dissimular entre outras compras. Tentar fazer com que passem despercebidos.” A muito custo, lá comprei duas garrafas de água, uma lasanha congelada e um saco de cebolas. Não resultou. A força visual de 20 rolos de papel higiénico abafou por completo a já de si diminuta decência latente a um conjunto lasanha/par de garrafas d’água/saco de cebolas. Naquele momento, não pude deixar de pensar que parecia alguém que precisava urgentemente de 20 rolos de papel higiénico. Eu não precisava urgentemente. Não estava à rasquinha. Nem coisa que se parecesse. Eu queria apenas aproveitar a promoção. Mas a sociedade é assim. Gosta muito de tirar conclusões precipitadas e julgar as pessoas.


Round two


Não tenho, está visto, truques que me safem dessa Kryptonite que é o papel higiénico nos supermercados. Mas, em compensação, tenho algumas regras que mantêm a minha masculinidade nos píncaros. Primeiro, nunca vou com alguém do mesmo sexo às compras. Eu já vi dois rapazes às compras e sei o que parece. Segundo, nunca uso um carrinho ou, pior, um cestinho para meter as compras. Prefiro fazer malabarismo com as compras nas mãos, apoiadas nos ombros e ao colo, do que levar um cestinho. Não raras vezes fico à rasca dos braços, mas num cestinho é que não pego. Eu bem me lembro do que aconteceu àquele meu vizinho que, aos seis anos, ficou com a bicicleta que era da irmã mais velha. Estava nova, impecável, travava muito bem e até tinha o seu jeito para derrapagens daquelas que levantavam um pó descomunal. Mas tinha também uma cestinha, branca, naquele plástico estúpido a imitar vime. Aquela cestinha na bicicleta deu-lhe cabo da vida. Marcou-o para sempre. Ainda hoje se fala nisso. Nos supermercados, eles bem nos tentam enganar. Dão cores fortes aos cestos. Azul-escuro. Vermelho vivo. Além de formas mais quadradas, tipo tijolo, e pouco redondinhas. Mas não deixam de ser cestinhos. A mim não m’enganam eles. Enquanto não arranjarem uma coisa assim mais ao estilo do saco onde o Rambo levava as metralhadoras e aquele arco que disparava uma flecha bomba que deitava abaixo helicópteros bolcheviques, prefiro carregar as compras.

Levando eu as compras nas mãos, é natural que queira assentar aquilo o mais rápido possível, enfiá-las em sacos de plástico e ir à minha vida. Mas não tenho, nunca tive, sorte com as filas. Aliás, devo ser a única pessoa, em toda a história dos supermercados, a já ter deixado passar duas grávidas à frente numa mesma fila. Duas grávidas, que nem vinham juntas, ficaram atrás de mim, cada uma com um intervalo de, vá lá, minuto e meio. Deixei passar ambas, como mandam as regras de boa educação e não a minha vontade. Mas este tipo de coisas, e valha-lhe isso, não acontece com muita frequência. Bastante mais comum é a situação em que, chegado ao pequeno tapete rolante da caixa, e todo dorido por causa das embalagens que equilibro, apanho, imediatamente à minha frente, uma daquelas criaturas que resolve dispor as suas compras de forma muito organizadinha, como se estivesse num concurso. Em vez de empilhar tudo, optimizando o parco espaço do pequeno tapete rolante, entrosa tudo com pequenos intervalos de cerca de cinco centímetros entre cada item. E por ordem alfabética ou por prazo de validade. Também já vi por cores. Sim senhoras, fica bonito, fica. E eu, pá? Que nem tenho cestinho! Que estou ali, que só Deus sabe, a sofrer! É que, como se não bastasse, é também habitual estas criaturas pegarem naquele separador das compras e postá-lo mesmo no finalzinho do pequeno tapete rolante. Ou seja, aquela área, onde os seus produtos estão harmoniosamente dispostos, é, por decreto, toda sua. Não me deixa uma nesga que seja para eu apinhar duas ou três compras e, enfim, ter logo algum descanso.

Normalmente, este género de gente arruma toda a sua tralha enquanto o cliente imediatamente à frente vai pagar. Aqui, também não costumo ter muito sorte. É sempre a pessoa que quer a factura. Ou a que tem duzentos cupões que dão 2 cêntimos de desconto cada e que têm que passar individualmente por uma coisa qualquer que lê o código de barras. Ou a que, afinal, já não tem dinheiro para levar tudo e manda um enlatado qualquer para trás depois de ter sido registado. E, nesse caso, é preciso chamar uma empregada chefe para meter um código qualquer que anula a compra. E depois acaba o papel dos talões. Ou então é a cliente que, já nas suas sete ou oito décadas de vivências e agruras, parece espantada por ter que pagar as próprias compras. E, só depois de lhe dizerem quanto é, é que vai buscar a carteira. Depois, após uma demorada consulta do saldo disponível, ainda decide que não quer ser ela a pegar no dinheiro e entregá-lo à empregada. Prefere abrir a carteira e dizer “olhe, veja se tenho aí dinheiro que chegue.” Ou ainda alguém que aparece com um iogurte individual, quando só se vendem em embalagens de quatro. E reclama, diz que não viu lá nada a dizer que tinha que trazer as quatro. Que não quer quatro. Só quer uma. Porque é que há-de levar as quatro se só quer uma? Não tem fome para comer quatro! Tem fome para comer um iogurte, não quatro! Está indignada. Parece querer começar, ali mesmo, agora, uma revolução popular contra o supermercado. Iniciar, ali mesmo, a propalada queda do capitalismo.

Por vezes, oiço a cavalaria: “Podem passar para esta caixa pela mesma ordem, se faz favor.” Abriu uma caixa, ali mesmo ao lado. Vou, finalmente, deixar aquele empecilho que, por qualquer razão absurda, demora anos a pagar e este fátuo que assume o básico acto de despejar as compras para cima do pequeno tapete rolante como uma honrosa participação num concurso de jardinagem. Abriu-se uma oportunidade d’ouro. Está quase, é a minha vez. Quase que choro de emoção. Sinto-me o Carlos Lopes no final da maratona de Los Angeles. Só que, claro, é sempre demasiado cedo para euforias. Eu bem penso que estou safo; esquecendo-me, por momentos, que é bem possível que, para os velhos que estão atrás de mim, aquele género de aviso seja processado como sendo qualquer coisa do género “Rápido! A ordem anterior não s’aplica! É uma nova fila! Uma nova fila!”. Vejo-me logo rodeado de velhos. Parecem combinados. Aparecem de todos os lados. Uma seita organizada que se apropria de lugares nas filas dos supermercados. Desoriento-me. Sou completamente manietado por aquela meia dúzia de velhos. Não consigo ficar com lugar privilegiado a que tinha direito na nova fila. E, não esquecer, voltar à fila anterior é assumir que tomei uma opção absolutamente errada quando a deixei. Como muito bem atesta o papel higiénico, o supermercado é pródigo em situações que demonstram fraquezas. E, como não quero dar parte fraca, como não quero baixar a cabeça e voltar à fila que abandonara momentos antes com alívio jocoso, deixo-me ficar na nova fila, no lugar que aquela terceira idade organizada me permite ter. Não lhes dou, à antiga fila, a satisfação de voltar. Não sei se faço bem, se faço mal. Sei é que dali já não saio. E limito-me a rezar que nenhum daqueles indivíduos que, com jogo subterrâneo, me arredou da dianteira da fila, adopte os tais comportamentos que atravancam a fluência da coisa. Mas isso acontece sempre, foda-se.


Blogger M. said...

Hum... Quase que apostava que fazes as compras no Mini preço :P  


Anonymous Anónimo said...

Sempre que compro papel higiénico, digo a toda a gente com quem me cruzo no supermercado que este ano vou mascarar-me de Múmia.
Se o produto em causa for papel de alumínio, digo que vou mascarar-me de T1000. Quando é película aderente, digo que vou mascarar-me de homem-invisível. Toda a gente acredita!  


Blogger Pedro Neto said...

Brutal texto!  


Blogger Bruno Pereira said...

É pá quase...quase que acordava todos os suits, que alegremente fixam a folha de excel no ecrã, à minha volta com tanto riso!

Parabéns!!!  


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