A questão mais preocupante, para Portugal, é o facto do Canadá poder, em breve, deportar também a Nelly Furtado e os inúmeros indícios de síndrome de Down que a acompanham para todo o lado. Se tal acontecer, o Canadá demonstrará acima de tudo acentuados sinais de ingratidão para com o país que, convém nunca esquecer isto, acolheu Bryan Adams durante o Verão de 69, época estival em que, narra a canção com o mesmo nome, só não viu nascer mais uma banda em Cascais porque o Jimmy foi-se embora e a Jody casou-se. Mais bandas de Cascais é coisa que todos sentimos falta, mas paciência. Por outro lado, convém também lembrar que o Canadá possui um considerável arsenal de armas de destruição massiva, onde se destacam largamente os discos, as fotos da lua-de-mel e os slides das férias da Céline Dion, e, por isso, é melhor não disputar as suas decisões feito parvinho. Pedir, sim, mas com jeitinho. Como só o Freitas do Amaral sabe fazer.
O Canadá não é só notícia porque começou a fazer aquilo que em Portugal se faz há muitos anos, embora, no nosso caso, não tenha merecido destaque mediático porque é com estrangeiros, gente que não interessa. O Canadá é com portugueses, boa gente, que trabalha e não dá chatices. Ora, aquela frígida nação também é notícia porque não é todos os dias que um país civilizado, e até admirado em muitos aspectos – curiosamente, todos fazem parte da anatomia da Pamela Anderson, da moçoila do “24” e daquela outra que fazia de monstro com o cio no “Species” –, decide que, não só é impreterível aviar milhares de focas bebé, como a melhor maneira de o fazer parece ser mesmo com pauladas na cabeça. E é preciso porque, citando as autoridades canadianas, “há muitas focas”. O critério é, de facto, magnífico e tomara Portugal aplicá-lo aos pombos e, a esta área ainda de forma mais urgente e intensa, às pessoas que cortam as unhas ou qualquer outro material com ADN em transportes públicos. Mas, diz quem sabe, que não é só por haver muitas focas, é também porque as focas, depois de mortas, dão peles fantásticas para os desfiles de moda, gorduras e óleos riquíssimos em omega-3 e, enfim, parece que até as pilas destes mamíferos desempenham um importante papel na indústria oriental dos afrodisíacos. Há algo de absurdamente provocador e cruel nesta dinâmica. Não bastando uma série de pauladas na cabeça, ainda sujeitam os pobres bichos a um massacre post-mortem, mandando-lhes as peles para cobrir as curvas de modelos, enquanto que as pilas acabam a enfeitar pratos de asiáticos decrépitos com uma tara que só encontra conforto e aconchego à pala de vídeos de animação sobre as aventuras de colegiais e tentáculos mutantes.
O massacre das focas nem é propriamente uma novidade. Há muito que se fala nisso e há muito que inúmeras celebridades se juntam ao habitual coro de protestos. Este ano, fizeram-se ouvir Paul McCartney e Brigitte Bardot. Não são os melhores símbolos de luta. Deviam escolher pessoas que pusessem o resto do mundo do lado das focas e não o contrário. O principal problema do Paul McCartney é só um, mas define tudo: o indivíduo insiste em demonstrar constantemente ao mundo que o Mark David Chapman fez pontaria ao Beattle errado. O problema da Brigitte Bardot é em tudo semelhante: insiste em provar constantemente ao mundo que o Mark David Chapman, mais que abater o Beattle errado, fez pontaria à celebridade errada. Os tempos mudam mesmo. E, se há quarenta anos atrás, imaginar Brigitte nua seria o principal vector explicativo das vertiginosas subidas nas taxas de natalidade, hoje, despir a senhora com os olhos é um instrumento de controlo de natalidade mais eficaz que a vasectomia. Se, sabe-se lá por que raio, não resultar com a Brigitte, experimente despir mentalmente o Paul, enquanto ele vai cantando a “Ebony and Ivory”. Como se trata de um dueto, o Stevie Wonder é opcional, assim como a sua possível nudez.