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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Verdades absolutas sobre basicamente tudo.
All great truths begin as blasphemies.
Nem mais. Porra. 

19 de maio de 2006

Músicas do Sempre (III)

Quando se fala em grande talentos que não atingiram os patamares mais elevados de reconhecimento, isto é, que não conquistaram os mais importantes troféus das suas áreas, os nomes citados são quase sempre os mesmos. Por exemplo, no futebol, a Hungria de Puskas – inequivocamente o gajo mais bem penteado da história do desporto rei –, a Holanda de Cruyff ou o Brasil de Zico, Sócrates e Falcão – o Trio Odemira das rabias na relva –, são sempre considerados quando se fala em grandes equipas que nada venceram, mas que, apesar disso, ficaram na história e são actualmente até mais lembradas que os próprios colectivos que as derrotaram. Tendo em conta que estamos a falar de títulos de campeão do mundo, e não de troféus Nova Gente, acaba por ser uma bela merda de consolo, mas enfim, é o que se arranja. Virando o jogo para outra área artística, o mundo do cinema também tem as suas Hungrias de Puskas ou Holandas de Cruyff. Por exemplo, o Hitchcock nunca ganhou um Óscar de melhor realizador. O mesmo aconteceu com o Kubrick. E, até ver, com o Altman e com o Scorsese. Ou seja, objectivamente, o Leonel Vieira, essa alma responsável por um filme cujo único mérito foi o de ser capaz de melhorar a imagem dum bairro bastante problemático da capital portuguesa – porque, hoje, Zona J é antes de mais uma deplorável fita e só muito depois um péssimo sítio para se esquecer da chave na ignição enquanto se vai “só ali comprar tabaco” –, está, em termos de vitórias nos Óscares para melhor realizador, no mesmo patamar que todos estes grandes nomes do cinema. E, já todos percebemos, o Leonel Vieira até pode realizar mais vinte ou trinta filmes. Mas nunca será um realizador. Não é justo que, ainda que de forma rebuscada, possa estar num qualquer mesmo patamar que profissionais e talentos a sério.

Ter talento e não ganhar é, então, algo que até acontece amiúde. O grande erro passa sobretudo por, em rigorosas leituras dos vencedores, eventualmente se colocarem os Leóneis Vieiras, que têm tanto talento como o Stevie Wonder tem percepção de profundidade, e as Hungrias de Puskas tudo dentro do mesmo saco. O saco dos que não ganharam. Ora, se me é permitido, gostava de, no saco dos verdadeiros talentos que, sabe-se lá porquê, acabaram por não ganhar, incluir um nome que corre o risco de vir a ser olvidado. Uma manifestação de talento ao nível do pé esquerdo de Puskas ou do “Goodfellas” do Scorsese. E que, inexplicavelmente, perdeu. Nada mais, nada menos, que Jorge Fernando e o estupendo “Umbadá”. Sim, porque se, como li há dias num rodapé da Sky News, “‘Fresh water love’, sung by lady Dina, was the last spark of the Eurovision song contest in Portugal”, então, era justo que um rodapé constante da mesma estação nos lembrasse que “George Ferdinand and his electrifying ‘Onebadá’ got the most unfair outcome of the Eurovision glorious history”. Porque foi isso que se passou. “Umbadá” conseguiu apenas, pasme-se!, o quarto lugar no Festival da Canção de 1985. Fui saber, e não é que o “Umbadá” ficou atrás do Nuno & Henrique, dois pirralhos – sendo que um parecia que a mãe o tinha vestido e penteado de forma a parecer um Richard Clayderman anão – que cantaram uma coisa chamada “Meia de conversa”? Indecoroso. Ficou ainda atrás duma Eduarda que cantou umas lamúrias de camafeu sob o título “Meu amor, minha dor, meu jardim”. E, claro, ficou atrás do grande vencedor da noite, o “Penso em ti, eu sei” de Adelaide Ferreira. Eu até nem tenho nada contra a Adelaide Ferreira. Quer dizer, enerva-me um bocado que todas as gajas gordas que vão a concursos de cantoria, escolham aquela música que tem uma apoteose de “afinal o papel principal é meu e só meu” em gritaria de desequilibrada mental ou em ovulação. Mas nada tenho contra a senhora. Aliás, no café onde eu ia comprar pastilhas quando era assim mais catraio, até ouvi bastantes vezes os presentes a elogiar a traseira da sua Irmã Mila, quando ela apresentava aquele concurso de tunas com o Nuno Graciano.

Mas, de facto, é um absurdo que o “Umbadá” não tenha ganho. E até já o seria se não tivesse ganho com uma margem confortável. Assim, pura e simplesmente, não há palavras. Mesmo admitindo, e eu faço-o, que “Umbadá” não é a canção perfeita! Mas é daquelas canções – aliás, será mesmo a canção, a nível mundial – em que os ouvintes mais querem que o refrão chegue depressa. Não é que o resto seja mau. Não é. Mas aquele “É umbadá, umbadéo-umbadá” é o maior clímax que a canção ligeira foi capaz de dar ao mundo. É que eu, no antigamente, sonhava em guiar o carro grande dos bombeiros. A caminho de um fogo. Com aquelas luzes todas ligadas e a fazer um chinfrim dos diabos. Com as pessoas a olhar, esperançadas na minha força de combate enquanto soldado da paz que guiava o carro grande dos bombeiros. Era como ser o Super-homem, vá. Fazer barulho e ter toda a gente a olhar para nós, sem nos recriminar, enquanto íamos brincar com o fogo, era o sonho de toda a faixa etária 4-10 anos. Era a situação em que mais se imaginava, e citando o Jardel, a naftalina a subir para níveis cósmicos. Infelizmente, não cumpri esse sonho e o desejo foi esmorecendo com os anos. Mas, enquanto foi a coisa que mais queria fazer na vida, aquele refrão afro-pop de Jorge Fernando foi capaz de ir apaziguando esse desejo premente. Ouvir aquele “É umbadá umbadéo-umbadá” foi, durante bastante tempo, e à falta da coisa a sério, o meu “guiar o carro dos bombeiros em alta velocidade, com as luzes todas ligadas e a fazer uma algazarra parva”. É, sem dúvida, o seu equivalente musical. Mais calmo, mais reconfortante. Mas, ao mesmo tempo, estupidamente capaz de passar uma euforia única. Ficou em quatro lugar no Festival da Canção? Ficou. Merecia mais? No mínimo, o céu. C'um raio, vamos mas é todos guiar este carro grande dos bombeiros!

Outras músicas:
Wind of change
Amor d'água fresca


Blogger Ritinha said...

olá! é a primeira vez que passo por aqui mas o teu blog parece me interessante... vou ficar por aqui um pouco a ler

beijinhos  


Anonymous Anónimo said...

E este, meus amigos, é o poder do umbadá...  


Anonymous Anónimo said...

Cheguei aqui pois andava à procura desse grande sucesso "meia de conversa" dos manos nuno e henrique!

E eles coiso...umbadá!

O blog fica nos favoritos!  


Anonymous Anónimo said...

gostei muito,aqui é bem qualificado,sou da paraíba.[é bem legal].  


Anonymous Anónimo said...

LINDOOOOO!!!!!! LOLOL Tenho saido ai com uns amigos e tal ao fim de semana a noite e a nossa musica de eleiçao e esta ! Vcs nem imaginam a tripe k e dentro do carro mas nakela Ta la :) lol  


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