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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Verdades absolutas sobre basicamente tudo.
All great truths begin as blasphemies.
Nem mais. Porra. 

8 de junho de 2006

Na ocidental praia lusitana II












No seguimento da última comunicação deste pardieiro, aqui ficam, sem nenhuma ordem em particular, as cinco pessoas para quem o princípio da autuação à beira-mar deveria ter sido criado.

Pessoas que metem um emaranhado de algas e lixo na cabeça e fazem air guitar

Não sei se o conceito que sustenta a prática do air guitar é próximo a toda a gente, mas aviso já quem nunca teve o infortúnio de apanhar alguém a fazer isto, que o melhor é deixar de ler agora mesmo e ir à sua vida, se é que tem uma. Por seu turno, quem quiser prosseguir, pode fazê-lo, mas a partir deste momento fica por sua própria conta e risco. Pois bem, air guitar, e vou dar a definição científica da coisa e tudo, é o “acto de fingir que se toca guitarra, imaginando que se tem o instrumento nas mãos, e desenvolvendo um exageradíssimo movimento de dedilhação, frequentemente acompanhada de cantoria em altos berros ou sincronização labial com uma qualquer canção, e/ou movimentos violentos de cabeça para baixo e para cima”. Ora, esta coisa do air guitar, por si só, é já, com muito boa vontade, estupidamente parva, mas consegue ganhar uma nova magnitude quando é perpetuada por um indivíduo que a desenvolve como complemento perfeito para o acto de enfiar com um monte algáceo na cabeça. Como é lógico, estes dois actos conjuntos, já deviam, quando isolados, dar direito a umas lamparinas bem encanadas naquelas fuças. Mas juntos merecem uma coisa mais próxima de, sei lá, uma pequena guilhotina para usar nos mindinhos dos pés. Sim, coisa leve, porque também não sou nenhuma besta sádica que para aqui anda.

Pessoas que empinam papagaios

Sim senhoras, empinar papagaios. Não é que, com tanto avanço tecnológico, não há maneira de se acabar com isto? Trata-se de um homem, crescido, que agarra por um fio de pesca um papagaio. Não é a ave, é de brincar. Parece que o papagaio é o seu animal de estimação e ele o está a passear, recorrendo-se da trela para que não fuja. Como se faz com os cães mais histéricos. É que, ainda por cima, este pessoal dos papagaios é quase sempre um pai a ensinar aquela milenar arte aos seus filhos. Como se fosse uma arte perdida, que se passa de geração em geração em segredo. Mas empinar papagaios é tão uma arte como dizer o nome inteiro com um arroto sem beber Coca-Cola é uma arte. É claro que o miúdo está sempre fascinado a olhar para o pai que empina papagaios. O pai é mágico! Um feiticeiro! O meu pai consegue fazer voar coisas, pensa o pirralho maravilhado. Eu também consigo parecer super poderoso à frente de um catraio. Basta-me ter uma caneta e fazer aquela coisa de a abanar para cima e para baixo até parecer que é agora, graças aos meus poderes, é um objecto super maleável. A verdade é que nunca empinei papagaios. Mas já vi disso vezes suficientes. Aliás, vezes de mais. E, ora bem, o papagaio é que está a voar. Quanto muito, é ele que se diverte. O gajo que empina limita-se a ver um bocado de plástico a planar. Eu, aqui ao pé de casa, já vi sacos de plástico do Intermarché e até bocados de esferovite a pairar, lá bem no alto. Não me senti minimamente maravilhado. Assim, onde é que está a emoção disto? É um desporto, uma prova de destreza? Então como é que se perde a empinar um papagaio? Como é que se ganha? É só metê-lo lá em cima, a levitar? A satisfação advém desse simples acontecimento? É que meter um bocado de papel ou plástico de forma poligonal a voar num terreno aberto debaixo duma ventania diabólica não me parece mesmo grande avaria. Aquilo cai, levanta e paira quando o vento quer. Empinem uma farinheira ou uns torresmos do redanho, mas é. Isso, sim, já me parece complicado.

Pessoas que vão à água apenas e só para mijar

Calma. Eu sei que, infelizmente, todas, ou quase todas as pessoas mijam na água. Toda a gente sabe. Isto é um facto. E toda a gente gosta de pensar que, por ser no mar, que é uma coisa assim até grande e com espaço, não há mal nenhum. Mas há, claro. É mijo. Sim, é verdade que, exceptuando o quentinho momentâneo, o mijo até acaba por passar despercebido na imensidão do oceano. Dilui-se. Claro que dilui, não duvido. E uma gota de urina na panela da sopa? Também se deve diluir. Não querem brincar a isso também? Aliás, se a lógica é essa, a de que, passando despercebido, se pode fazer porque não há mal nenhum, então que tal defecar num daqueles lagos onde se tomam banhos de lama, hã? Também devia ser jeitoso. Mas o que me faz confusão é quando se percebe que foram à água só para mijar. Pelo menos tenham a atenção de não se perceber que acabaram de ir mijar. Se eu não percebo que alguém está a mijar, é como se ninguém, alguma vez, tivesse mijado na água onde me estou a banhar. Não me passa pela cabeça e consigo-me divertir e abstrair do facto que ando a beber urina. Mas se percebo que mijaram, pronto, está o dia estragado. Porque é que vão lá de propósito? Porque é que não aguentam até irem tomar banho? Porque é que entram até a água lhes chegar à barriga, ficam quietos durante uns segundos, e vão logo embora, nitidamente mais aliviados? Toda a gente percebe! Fiquem mais um bocadinho. Disfarcem a micção. Mergulhem, andem, apanhem pedras, mexam na água, lavem o balde do vosso filho. Alguma coisa. É que até já vi senhoras a adoptar a posição fecal, ou seja, mijando ali, com a água pelo peito ou lá perto, como se estivessem em casa ou no mais recôndito matagal. Baixam-se, como se se estivessem a ambientar à água. Ficam assim uns segundos. E pumbas! Levantam-se e vão-se embora. Não se estava a ambientar à água! Foi só mijar! E essa gente deve pensar que não reparo que vão mijar a uma ponta e tomar banho noutra. Os patifes.

Pessoas com um detector de metais à procura de coisas com valor

Mas quem é esta gente? Estão a brincar ao Indiana Jones e esperam encontrar o Santo Graal enterrado ali na praia de Carcavelos a uns míseros centímetros de profundidade? Além da parvoeira que é andar na praia com um instrumento que parece um aspirador e só encontra latas, garfos, pilhas e dentes chumbados, estas pessoas parece que têm um uniforme específico. São sempre representantes da classe etária que a ciência define como “carcaças”, ou que para lá caminham, e que ostentam um panamá, sandálias, meias grossas de cor escura, calções ou corsários de napa, um pólo, uma luva de meio dedo na mão que empunha o instrumento de detecção e uma daquelas bolsas de usar à cintura. E depois parece que estão em trabalho e que aquilo é uma ciência. Sim, eles gostam de dar a entender que não é só andar com uma vara metálica à espera que se oiça um apito para poderem começar a desenterrar lixo. Como se não bastasse, ainda estão sempre mal encarados porque as pessoas, com as suas trouxas, toalhas e corpos, estão a ocupar locais onde potencialmente estará o lixo que eles querem desenterrar. Para mim, estes gajos dos detectores de metais nas praias não passam do equivalente daqueles esfarrapados que metem a mão em tudo o que possa ter trocos perdidos, como os telefones públicos ou as máquinas de bilhetes do metro. Só tenho pena que as fraldas, os pensos higiénicos e os pensos rápidos não tenham um qualquer composto metálico que faça soar o alarme daquela parvoeira detectora. Talvez a fralda de um puto com uma dieta rica em mercúrio ou potássio dê para isso. O que eu adorava vê-los, esperançosos como nunca, a escavar um buraco para encontrar um tesouro do género. Porque sei, por experiência própria, o que custa quando estou refestelado a remexer a areia com alguns dedos do pé – quase sempre o grande e o outro ao lado – e depois encontro algo que, descubro pouco depois, é um penso rápido. Seria gratificante vê-los escavar uma porcaria dessas com as próprias mãos. Vou é começar a meter um cêntimo em todas as fraldas que encontro e depois enterrá-las ao acaso na praia.

Pais que fazem questão que os filhos andem nus

Não consigo perceber a utilidade desta opção. Até percebo que seja complicado manter algumas crianças com restrições, mas a roupa é – ninguém contestará – uma restrição quando assume a forma de um laço ao pescoço ou um colete, por exemplo. Uns calções de banho dificilmente o serão. Mas, pronto, hão-de haver por aí crianças que reagem a qualquer peça de vestuário como um cão como quando lhe vestimos uma camisola. Mas a esmagadora maioria não se importa de manter os calções. São os pais que lhes tiram, que eu bem vejo. E depois, normalmente até os deixam nus, mas com o boné na cabeça. Por causa do sol. Ou seja, são filhos de pais que até se preocupam, mas depois os deixam andar nus como se fossem selvagens. A aproximar-se das toalhas das outras pessoas, nus. Andam a correr atrás de caroços, nus. Caiem na areia com a boca aberta, nus. Choram, gritam, berram, cantam, saltam. Nus. Esta coisa dos miúdos nus na praia precisa mesmo de enquadramento legal. Se querem mesmo continuar com isso, se, tal como os touradas ou a assunção que margarina é a mesma coisa que manteiga, faz parte da tradição portuguesa, ao menos estipulem uma idade limite. No máximo, até entrarem para a escola. Pessoas que já sabem ler qualquer coisa não deviam andar nuas na praia. Mas, atenção, isto não significa que quem ainda não sabe ler devia poder andar nu na praia. Deus nos livre, ainda por cima num país com 10% de analfabetos. A verdade é que crianças nuas na praia podem dar azo a sustos ou situações incómodas. Já se encontraram na situação de acordar e, ainda meio a dormir, sem saber onde raio estão, dar de caras com duas crianças nuas perto da vossa toalha? É coisa para causar um enfarte do miocárdio ou de outro amigo dele, caraças. É impossível as palavras “eia, c’um caralho, o que eu bebi a noite passada!” não atravessarem aflitivamente a vossa mente. Depois lá se percebe que estão na praia e não na companhia de duas crianças nuas num qualquer quarto refundido de pensão com uma câmara de vídeo, lenços de papel e legos. No mínimo, era um susto evitável. Pior que estes pais, só mesmo aqueles que levam os filhos à água quando ainda usam fraldas. Não sei se estão familiarizados com a acção da água numa fralda, mas a tendência é para aquilo, depois do primeiro contacto, se soltar tudo num período muito reduzido de tempo. É certo e sabido que, nos próximos momentos, vai haver uma fralda a boiar no mar ou a enfeitar o areal. Se ficar na areia, não tarda estão dois putos aos pontapés naquilo. Nus.


Blogger Ariadne said...

As quantidades que tu me fazes ler !! E a esta hora impossível, ainda por cima ! Xi !! E já me dobrei aqui a rir outra vez... não há remédio: tenho mesmo de começar a dosear esta página !

BB  


Blogger Pedro Neto said...

Só para te deixar um abraço e dizer que gosto imenso de vir aqui ler o que escreves.  


Anonymous Anónimo said...

Atão e agora como é k eu faço para ir mijar à água sem dares por isso,ah?  


Blogger Different said...

Gostei muito do teu blog.
mentacutilante.blogspot.com  


Anonymous Anónimo said...

Descobri à pouco este blog, mas vale a pena. Parabéns!  


Anonymous Anónimo said...

Que probreza e ingnorancia, pesquise e saberas que empinar pipas e papagaios é uma arte sim ...
E me diga mais, quando tu tens diarreia perdes a memória ?  


Blogger J. Salinas said...

Enfim, foi pena termos sido nós a colonizar o Brasil...  


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