1992. Ano em que o pai do Bush d’agora vomitou para cima do primeiro-ministro do Japão. Ano em que Bill Clinton, ao ser eleito, deu início a uma jornada que culminaria na adjunção de um novo sentido à expressão “ter uma conferência na sala oval.” Ano em que, findo o boicote cultural, Paul Simon é o primeiro artista a actuar na África do Sul, levando milhões de nativos daquele país a perguntar “Hã? Mas era isto que andávamos a perder?”. Ano em que a Sinead O’Connor, e já que o penteado anti-piolhada e a música choramingas não pareciam ser suficientes para atingir o estrelato, rasga uma foto do Papa em directo num programa de variedades. Ano em que, sem que eu percebesse quem eram os maus e os bons, começou a cowboyada nos Balcãs.
Além de, embora inadvertidamente, a cantiga de Dina ter arrasado com o fenómeno Festival da Canção, a dita mostrou-se ainda capaz de, finalmente, esclarecer uma posição referente a um pódio muito específico. À pala do “Amor de Água Fresca”, Dina é, actualmente, não só em termos musicais, como ao nível de todo o showbizz, a fufa mais célebre do nosso país. O seu “Amor de Água Fresca” é uma ode ao amor lésbico, ao esfreganço e à lambição. Basicamente, naquele seu hit, Dina enumera uma série de frutas e faz disso uma canção. A questão central aqui é que, de entre tanta fruta, não tenho havido espaço para uma banana. Fruto fálico por excelência, a banana foi, clara e propositadamente, arredada do “Amor de Água Fresca”. Dina fez questão de mostrar que não gosta de bananas. Até abrunhos, romãs e abacates, a senhora foi buscar. Até fruta estrangeira, como a pêra francesa. Mas nada de bananas, que é bem mais nacional e comum nas cestas das portuguesas. A mensagem não podia ser mais clara e, a partir de 1992, quando se falava em lamber carpetes ou bater pratos, Dina passou a ser a referência. A indiscutível número 1. A mais famosa portuguesa a odiar bananas e a adorar abrunhos, o primo feio das ameixas.
Destronou Lara Li do trono da fufice. A senhora que, com "Telepatia", uma balada dedicada à amada distante, com quem, palavras dela, partilhava um “segredo”, reinou durante anos a fio. Se bem se lembram, “Telepatia” tinha uma parte falada, em que uma voz bastante grave, debitava uns lugares-comuns da lamechice romântica. A voz era, pouca gente sabe disto, a voz normal de Lara Li. “A voz”, como ela lhe chamava, “de ir à oficina”, falar sobre calços de travões, de jogos de juntas e de buchas de suspensão. Lara Li tinha outra canção que ficou famosa. Uma UHFada, de seu nome “O Rapaz do Cubo Mágico”, composição pejada de metáforas relativas a determinado estilo de vida que tanto lhe dizia. Aliás, basta, para encarar logo a canção com outros olhos, trocar, no próprio título, “rapaz” por “rapariga”. E “cubo” por “clítoris”. Seja como for, duas cantigas para marcar posição, “Telepatia” e “Rapaz do Cubo Mágico”, demonstraram-se insuficientes perante o furacão que foi, e é, o “Amor de Água Fresca” de Dina. A verdade é que Lara Li acabou mesmo por perder a tal liderança e o Festival da Canção é agora um programa pautado pela melancolia e obscurantismo mediático. Em ambos os casos, de vez, digo eu.
Outras músicas:
Wind of change
said...
era melhor só trocar "cubo" por "clitoris"!
J. Salinas said...
Também me parece bem que sim. Vou já tratar disso.
said...
Clitoris é um pénis subdesenvolvido. Um cubo tem seis faces. Mais não digo... tirem vocês mesmos as vossas conclusões.