
O Manuel Subtil, quando se trancou na casa de banho da RTP, e disse que tinha uma bomba e “ai Jesus, saiam daqui e não intervenham, que eu faço rebentar isto tudo!”, mais não fez que actualizar o célebre acto de se fechar em qualquer lado e gritar, para os pais, “Vou ficar aqui sem respirar até me darem aquilo que eu quero!”. As reacções populares a estes acontecimentos? “Olha-me bem para aquele fedelho malcriado e mimado”, num caso, e “pobre homem, que, de tanto desespero, chegou a este ponto” no outro. Nunca vi um puto ser aplaudido por uma multidão depois de fazer birra num centro comercial. Não se percebe a diferença de tratamento.
Algumas das formas de acabar com a birra – “resolver a situação” no caso adulto – são também equivalentes. Se um miúdo faz birra numa loja, porque quer não sei quê, o pai ou a mãe vão dizer “porta-te bem por causa da senhora da loja!”. A “senhora da loja” é a versão infantil do “eles” adulto. O “eles” é o culpado de tudo o que de mal acontece na vida de todo e qualquer indivíduo. O homem que faz greve de fome ouvirá, de certeza, da parte das pessoas que o querem convencer a abandonar tão nobre birra, um “Pois, eles não querem saber das nossas razões” seguido de um “é uma tristeza, mas é assim e não podemos fazer nada, por isso dê lá uma trinca neste pão de leite com fiambre e manteiga”. Com a “senhora da loja” é igual. A “senhora da loja” não quer saber das razões do puto, quer é que ele se cale e não perturbe a paz do negócio. “Eles” também não querem saber. E se não se calam, puto com a mosca e adulto desesperado, a “senhora da loja” e “eles” vão, respectivamente, intervir. E, mais cedo ou mais tarde, é através desta ameaça, da intervenção, que a birra amaina e a greve de fome acaba com uma bifana na roulotte que entretanto se instalara para aproveitar a aglomeração de pessoas.
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