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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Verdades absolutas sobre basicamente tudo.
All great truths begin as blasphemies.
Nem mais. Porra. 

11 de dezembro de 2006

É que chego a preferir o jornal











Vicissitudes da mais variada espécie impeliram-me para uma vida de jornadas e andanças. Que, deixando-se de literalices, é como quem diz foi uma vida a andar em expressos da rodoviária. É de certa forma injusto, mas há palavras e expressões que, sabemo-lo todos de antemão, nunca marcarão presença em qualquer peça literária de relevo. Expressos da rodoviária é seguramente uma delas. Adaptem-se as palavras de certo autor, não por acaso possuidor de um dos bigodes mais bigode da sua era, e é ver como a expressão arruína qualquer seriedade que este tenha pretendido manter. “Aos trinta anos apartou-se Zaratustra da sua pátria e do lado da sua pátria, e foi-se até à montanha num expresso da rodoviária.” Enfie-se ainda a expressão na versão literária d’A Mosca, o – e sim, vou levantar polémica – melhor filme da carreira de todos os seus intervenientes, e o resultado é igualmente pavoroso. “Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco expresso da rodoviária.” Também, valha a verdade, que os expressos da rodoviária pouco ou nada merecem nesta vida. Nem sequer menção honrosa numa cantiga de amigo, que é, garantidamente, o pior nome que já se deu a uma composição literária. Os expressos da rodoviária não passam de pequenos laboratórios onde criaturas inqualificáveis revelam a sua verdadeira essência. Que é a de selvagem, caso não me tenha feito já entender. Eu, que nem primo pela civilidade dos meus actos ou pensamentos, quanto ando num expresso da rodoviária, pareço um norueguês no Congo. Muito do que lá se passa é pavoroso e funciona num limbo qualquer onde até a mais pequena prática se desenvolve contra a lógica, a decência e sobretudo o bom senso. Como aquilo, enfim, é um serviço, é imperativo tirar bilhete. “Tirar bilhete” é, se alguma coisa, sinónimo automático de enfado extremo. Nunca a expressão tirar bilhete é portadora de alegria e boa-disposição. É quase sempre “Já tiraste bilhete?”, “Xi, ainda não, caralho!”. Ou, quanto muito, “Já tiraste bilhete?”, “Já, foda-se, que seca que foi, chiça!”. Para tirar bilhete há filas. Ou, como era até há pouco tempo, bichas. O que mais me enerva nos maricas extravasa em muito o universo da sida, doença que, facto científico divulgado recentemente por entidades, foram mesmo eles que inventaram lá com as folganças deles. E, antes que isto descambe, refira-se que me chateia a sida, não enquanto doença, mas enquanto dia mundial que enche as televisões com documentários e debates de merda sobre preservativos. E em dia de Sporting x Benfica. Já em relação à mariquice propriamente dita, chateia-me bem mais o facto de eles terem arruinado substantivos muito valorosos, de que “bicha” será o exemplo mais célebre. Agora, por causa da paneleiragem, deixou de haver bicha no IC19. Já só há filas. E eu não posso dizer que estava uma bicha do caneco ali na variante sem que meia dúzia de amebóides emitam pequenos risinhos ou simianas gargalhadas. Obrigadinho, homossexualidade, sim senhoras! Só por isso é que sou contra tudo o que vocês querem. Para ver se também gostam. Querem casar? Azar. Estragassem palavras chatas, como alguidar ou bule. Porquê bicha, que se usava tanto? Eu nunca usei as palavras alguidar ou bule. Quando precisava de alguma dessas coisas, dizia sempre “olha, passa aí isso” e apontava para o bule ou o alguidar. E nunca há histórias para contar sobre bules ou alguidares. Sobre bichas há. Imensas. Mas tirar bilhete é mau no sentido de haver bichas, e, havendo bichas, há velhos. Eu até acho que só há bichas no mundo porque há velhos. A função dos velhos nas sociedades modernas é criar e manter bichas durante o maior período de tempo possível. Aliás, é pegar no país com a mais baixa esperança de vida do mundo, que é para aí Moçambique, e ver se há lá bichas. Mostrem-me uma bicha em Moçambique e eu mostro-vos um equívoco. Se não há velhos, não há bichas. Um conselho para a vida: seja em que ocasião for, prefiram uma bicha de vinte pessoas a uma bicha com dois velhos. Outro conselho para a vida: não esfreguem a ponta da língua no céu-da-boca. A sério. Depois não conseguem parar. Das vezes que comecei com isso, só para ver se depois já conseguia parar, tive que correr até desmaiar. Só assim consegui parar. A questão é que havendo velhos, há procura por bilhetes para dias que ainda hão-de vir. Nunca para o imediato. Se há procura por bilhetes para dias que hão-de vir, há pouca pressa. Se há pouca pressa, há questiúnculas muito particulares. Há a necessidade de saber todos os horários disponíveis, sendo certo que acabam sempre por ir no primeiro porque se levantam quando ainda é noite. Depois, há que saber em que linha estará o expresso da rodoviária. Se pára perto de casa da irmã. Se lá faz frio. Olhe, e a que horas chega?, para saber se devia levar mais agasalho porque à noitinha arrefece. Mas lá se acaba por tirar bilhete e se vai para o expresso da rodoviária propriamente dito. Lá, já junto ao expresso da rodoviária, processa-se o atafulhamento da bagagem e passa-se para a próxima etapa: cortar o bilhete. “Já cortou o bilhete? Deixe cá ver então.” Isto consiste em mostrar o bilhete ao motorista que, altamente especializado, o corta. Cortar o bilhete, no universo dos expressos da rodoviária, é dobrar um bocadinho da ponta inferior, vincar mesmo, com afinco e precisão, e depois rasgar e dar o que sobrou ao utente. E eis que, por fim, se está dentro do expresso da rodoviária. Alguns velhos procuram o lugar exacto que os bilhetes lhes garantem. Mesmo que existam quarenta lugares vagos, e existem quase sempre, os velhos procuram o lugar que está no bilhete. Para depois não haver chatice, dizem eles. Já sabem como é que é, arrematam sempre. Depois é vê-los, desde o início do corredor, que nem tartarugas de patas para o ar. “Onde é que estão os números dos lugares?” “É em cima.” “É em baixo.” “Mas aonde?” “Não vejo cá nada.” “Chame aí o chauffeur, que isto assim não pode ser.” “Será aqui? É que não vejo cá nada.” Óbvio que todas estas, e muitas outras, expressões indagadoras são intercaladas com um novo visionamento do número que está escrito no bilhete. Eventualmente, os velhos lá decidem desentupir o corredor do expresso da rodoviária e, se forem dez velhos, ocupam os dez primeiros lugares. Procurem muito, procurem pouco, isto acontece sempre assim. Mas, pronto, a terceira idade ainda é com’ò outro. Até os compreendo e simpatizo com quase todos eles menos cerca de dez. Eu, quando chegar a velho, vou ser bem pior. Vou ser velho, quero lá saber. Se ser velho serve de desculpa para tudo, esperem por mim que vai chegar o apocalipse. Eu, com tudo isto, queria mesmo é dizer mal das pessoas que põem o banco todo para trás. Não gosto deles, pronto.


Blogger Indie-Go! said...

blog completamente desinteressante :D  


Anonymous Anónimo said...

Indigo, apesar de não ter lido até ao fim, achei que o teu comentário é dos melhores que eu já vi.  


Blogger J. Salinas said...

Eu não percebi nada. Mas se calhar foi porque li de trás para a frente. Pareceu-me profundo e isso.  


Anonymous Anónimo said...

Muito fraco!  


Blogger J. Salinas said...

Eu diria "bastante". "Muito" é de certa forma redutor dado o objecto analítico.  


Blogger Nelson said...

O pior dos expressos da rodoviária nem é isso. São as curvas. Se há coisa que detesto é ir no expresso a dormir e o gajo dar uma curva e eu acordar. Felizmente resolvi a questão: agora vou de carro. Como vou a conduzir não posso dormir e tá o problema resolvido.  


Anonymous Anónimo said...

Sempre sonhei um dia andar num Expresso da "Rodoviária". Até hoje só consegui viajar num "Mondinense" e quando era pequenino contaram-me que fui a Vila Real na "Cabanelas"!
A transortadora local aqui em Gaia tem um nome muito peculiar: "Espirito santo"!
Imagine as conversas interessantes proporcionadas pela questão:
- Então Zé, como vais para a Escola amanhã?
- Vou apanhar o "Espirito Santo"!  


Blogger António A. Antunes said...

afinal quem é o médico?  


Anonymous Anónimo said...

João,

O mesmo não se pode dizer do teu comentário. O que é um blog desinteressante?! Quem o visita?!  


Anonymous Anónimo said...

para continuar com a harmonia: altamente viciante é comer as peles por dentro das bochechas. Experimentei aos 12 anos e nuca mais consegui parar. A sério. Tenho quase 30 e tem sido uma vida de dor.  


Anonymous Anónimo said...

Só esqueceram duma situação, altamente, constrangedora: quando o indivíduo que ficou ao nosso lado (e que não conhecemos de lado nenhum) adormece e está constantemente a descair p'ro nosso lado. O que fazer nessas alturas??

Se o acordamos e dizemos alguma coisa, somos umas bestas mal educadas, e ainda nos habilitamos a ouvir: "O que tás de esquisito!!".

Se nos calamos, temos que estar a levar com um tipo, que não conhecemos de lado nenhum, a roçar-se, constantemente, em nós.

Quero dizer que subscrevo tudo o que foi dito, inclusivamente o ódio pelas pessoas que puxam o banco todo p'ra trás!!!  


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