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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Verdades absolutas sobre basicamente tudo.
All great truths begin as blasphemies.
Nem mais. Porra. 

7 de setembro de 2005

Capas que dificilmente serão piores que a música, mas é possível (II)


Não há muito para dizer perante evidências deste género. ‘Richard and Willie’ é o nome de um espectáculo cómico de ventriloquismo que fez furor nas décadas de 60 e 70 em pequenos clubes de Los Angeles. Cresci numa época em que havia demasiados filmes de bonecas de porcelana possuídas por espíritos demoníacos cujo objectivo imediato passava por degolar jovens casais com facalhões de cozinha, cutelos ou saca-rolhas. A esta sede de sangue humano que julguei ser característica de todos os bonecos semi-articulados, junte-se-lhe ainda o andar destrambelhado com os sempre imaginei a percorrer os corredores sombrios das casas das futuras vítimas. Por conseguinte, sempre tive dificuldade em apreciar o trabalho do ventriloquista sem que um misto de cepticismo, medo e terror se apoderasse de mim. Quando os programas de fim-de-semana do Júlio Isidro e do Luís Pereira de Sousa enchiam as tardes televisivas, ocasionalmente, lá surgia o ventríloquo e o seu companheiro boneco que dizia graçolas. A verdade é que ninguém queria saber o que dizia o boneco. Toda a gente se concentrava na boca do homem que o comandava, só para ver se o movimento dos lábios era tão descarado que permitia um exclamar “vê-se que ele é que está a falar!” de regozijo. Regozijo, não por termos desmascarado um impostor, mas sim porque se tornava visível que o boneco não estava vivo, não era irascível e, claro, não iria aparecer em casa de alguém durante o sono.

O último ventríloquo que vi foi aquele senhor do ‘SIC 10 Horas’ que manobra um pato amarelo com o cabelo espetado. Também deve ter passado pelos programas do Júlio Isidro e do Luís Pereira de Sousa, mas eu não me lembro dele, da mesma maneira que não me lembro de ninguém que por lá tenha passado. Bem, nos nossos dias, o senhor e a sua companhia viram, a mando telefónico de telespectadores reformados, uns painéis com títulos de novelas que podem ou não oferecer dinheiro. Um final bonito para a demónica arte de dar vida a bonecos satânicos. É melhor assim. O que não quero é imaginar que estes bonecos aterradores possam, algum dia, ficar sem ocupação e, pior que isso, sem domador. À solta.

funky honkey, nasty nigger’ é o título do registo áudio de um dos muitos espectáculos de ventriloquismo que as trevas conseguiram promover na vida terrena. Richard e Willie serão, quase de certeza, os nomes dos bonecos. E, como os estereótipos não parecem fazer grande mossa nesta capa, aposto que Richard é o branco pervertido que saliva na penumbra ao avistar formas femininas e Willie é o preto de voz estridente construído à imagem do James Brown. Um senhor, não completamente nu porque está munido de um laço esteticamente perfeito para marcar presença na celebração de um qualquer sacramento da Eucaristia, ostenta uma expressão facial à qual é impossível não associar as palavras ‘processo por assédio sexual’. Ao colo, dois bonecos de madeira ou outro material à partida inanimado, os quais, como já disse, é impossível não imaginar a perseguir inocentes humanos enquanto, com uma destreza assinalável, manuseiam um qualquer objecto lancinante com o qual esperam decepar matéria orgânica. Desça-se mais um pouco e deparamo-nos com uma pessoa que tem a cara mergulhada nos órgãos copuladores, não só do senhor do laço, como também das duas maquiavélicas marionetas.

Desde que soube que existe um filme chamado ‘Eduardo, mãos de pénis’ que prometi a mim próprio não mais me mostrar surpreendido perante as inovações dos cenários porno, mas é complicado manter a postura perante premissas deste estirpe. Um olhar mais atento permite ainda descortinar, na mão da pessoa que gratifica oralmente, e em simultâneo, um homem e duas marionetas, uma pequena bandeira norte-americana. A simbologia é tão densa que nem me atrevo a deixar palpites. Seja como for, e antes de qualquer análise, vamos todos partir do princípio que a pessoa ajoelhada é do sexo feminino. Esta capa de disco já é suficientemente perturbadora se assim for.

Outras capas:
Heino


Anonymous Anónimo said...

As marionetas tem duas boas razões para querer matar humanos. Primeira, há humanos que enfiam o braço (quase todo) no rabo das ditas cujas (pela mesma razão as vacas irão matar os veternários). Segundo, não só lhes enfiam o braço, como têm a mania de fazer perguntas estúpidas e de dar a resposta logo de imediato.
Quanto ao senhor da Sic 10 horas, ele de facto apareceu nos programas do Julio Isidro e do Luís Pereira de Sousa. Lembro-me como se tivesse sido há dez anos atrás... o pato que apesar de ser amarelo chama-se Donald, o que era confuso para os miúdos que estavam a ver o Clube dos amigos Disney.  


Anonymous Anónimo said...

Nunca percebi muito bem a dinâmica dos discos gravados por ventrilocos... Será que é imaginável que alguém num estúdio se dê ao trabalho de não denunciar o movimento dos lábios enquanto faz perguntas estupidas à marioneta??? Mas se a mão do ventiloco não está no rabo da marioneta estamos a ser enganados e o disco não foi gravado pela marioneta mas só pelo ventricolo a alternar a sua voz normal com a vozinha estupida de quem está a falar de boca fechada...
Inquietante....  


Anonymous Anónimo said...

Não era Donald, mas sim DONALE...
:)

Para quando novos posts?
E, já, agora, com a inteligência que caracteriza este blog.
Humor de qualidade não se faz por dá cá aquela palha, mas voce demora um bocado...  


Blogger J. Salinas said...

‘Donale’ é como os velhos dizem Donald... daí a confusão.

Posts novos não há, mas tenho para ali uns mais velhinhos que é a mesma coisa e até têm preços mais em conta.  


Anonymous Anónimo said...

Obviamente que este senhor anónimo é um velhote, daí tratar-te por você, e ter pressa para ver mais humor do teu, porque deve estar para morrer. De certeza que para além de usar a expressão "dá cá aquela palha" também diz "Donale".  


Anonymous Anónimo said...

Isto só é a expressão de verdadeiro ventriloquismo (se é que esta palavra existe) se quem estiver a fazer a voz das marionetas for a "personagem" que está com a "boca na botija"... Ai sim, aquilo é mesmo o verdadeiro espetáculo!  


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