O último ventríloquo que vi foi aquele senhor do ‘SIC 10 Horas’ que manobra um pato amarelo com o cabelo espetado. Também deve ter passado pelos programas do Júlio Isidro e do Luís Pereira de Sousa, mas eu não me lembro dele, da mesma maneira que não me lembro de ninguém que por lá tenha passado. Bem, nos nossos dias, o senhor e a sua companhia viram, a mando telefónico de telespectadores reformados, uns painéis com títulos de novelas que podem ou não oferecer dinheiro. Um final bonito para a demónica arte de dar vida a bonecos satânicos. É melhor assim. O que não quero é imaginar que estes bonecos aterradores possam, algum dia, ficar sem ocupação e, pior que isso, sem domador. À solta.
‘funky honkey, nasty nigger’ é o título do registo áudio de um dos muitos espectáculos de ventriloquismo que as trevas conseguiram promover na vida terrena. Richard e Willie serão, quase de certeza, os nomes dos bonecos. E, como os estereótipos não parecem fazer grande mossa nesta capa, aposto que Richard é o branco pervertido que saliva na penumbra ao avistar formas femininas e Willie é o preto de voz estridente construído à imagem do James Brown. Um senhor, não completamente nu porque está munido de um laço esteticamente perfeito para marcar presença na celebração de um qualquer sacramento da Eucaristia, ostenta uma expressão facial à qual é impossível não associar as palavras ‘processo por assédio sexual’. Ao colo, dois bonecos de madeira ou outro material à partida inanimado, os quais, como já disse, é impossível não imaginar a perseguir inocentes humanos enquanto, com uma destreza assinalável, manuseiam um qualquer objecto lancinante com o qual esperam decepar matéria orgânica. Desça-se mais um pouco e deparamo-nos com uma pessoa que tem a cara mergulhada nos órgãos copuladores, não só do senhor do laço, como também das duas maquiavélicas marionetas.
Desde que soube que existe um filme chamado ‘Eduardo, mãos de pénis’ que prometi a mim próprio não mais me mostrar surpreendido perante as inovações dos cenários porno, mas é complicado manter a postura perante premissas deste estirpe. Um olhar mais atento permite ainda descortinar, na mão da pessoa que gratifica oralmente, e em simultâneo, um homem e duas marionetas, uma pequena bandeira norte-americana. A simbologia é tão densa que nem me atrevo a deixar palpites. Seja como for, e antes de qualquer análise, vamos todos partir do princípio que a pessoa ajoelhada é do sexo feminino. Esta capa de disco já é suficientemente perturbadora se assim for.
Outras capas:
Heino
said...
As marionetas tem duas boas razões para querer matar humanos. Primeira, há humanos que enfiam o braço (quase todo) no rabo das ditas cujas (pela mesma razão as vacas irão matar os veternários). Segundo, não só lhes enfiam o braço, como têm a mania de fazer perguntas estúpidas e de dar a resposta logo de imediato.
Quanto ao senhor da Sic 10 horas, ele de facto apareceu nos programas do Julio Isidro e do Luís Pereira de Sousa. Lembro-me como se tivesse sido há dez anos atrás... o pato que apesar de ser amarelo chama-se Donald, o que era confuso para os miúdos que estavam a ver o Clube dos amigos Disney.
said...
Nunca percebi muito bem a dinâmica dos discos gravados por ventrilocos... Será que é imaginável que alguém num estúdio se dê ao trabalho de não denunciar o movimento dos lábios enquanto faz perguntas estupidas à marioneta??? Mas se a mão do ventiloco não está no rabo da marioneta estamos a ser enganados e o disco não foi gravado pela marioneta mas só pelo ventricolo a alternar a sua voz normal com a vozinha estupida de quem está a falar de boca fechada...
Inquietante....
said...
Não era Donald, mas sim DONALE...
:)
Para quando novos posts?
E, já, agora, com a inteligência que caracteriza este blog.
Humor de qualidade não se faz por dá cá aquela palha, mas voce demora um bocado...
J. Salinas said...
‘Donale’ é como os velhos dizem Donald... daí a confusão.
Posts novos não há, mas tenho para ali uns mais velhinhos que é a mesma coisa e até têm preços mais em conta.
said...
Obviamente que este senhor anónimo é um velhote, daí tratar-te por você, e ter pressa para ver mais humor do teu, porque deve estar para morrer. De certeza que para além de usar a expressão "dá cá aquela palha" também diz "Donale".
said...
Isto só é a expressão de verdadeiro ventriloquismo (se é que esta palavra existe) se quem estiver a fazer a voz das marionetas for a "personagem" que está com a "boca na botija"... Ai sim, aquilo é mesmo o verdadeiro espetáculo!