Corria o ano de 1994 quando o filho Kim atingiu o topo da pirâmide norte-coreana. Acérrimo defensor do ‘culto da personalidade’, quando focado na sua pessoa claro está, Kim Jong Il é conhecido pelos seus governados como ‘querido líder’, sucedendo, também neste particular, ao seu pai, que respondia pelo epíteto de ‘grande líder’. Discussões sobre o que é melhor, se ser ‘grande’ ou ser ‘querido’, dividem não só todas as mulheres do mundo, como, a dada altura, chegaram a afastar pai Kim e filho Kim em vários jantares de família. Diz-se inclusive, à boca pequena, que uma discussão mais acalorada terá mesmo antecipado a morte de Kim Il-Sung (aos 82 anos, parece-me que um espirro na sua direcção teria o mesmo efeito acelerador) e consequente subida ao poder de Jong Il.
Independentemente disso, em termos de medidas políticas, o líder norte-coreano tem-se pautado pela coerência, e, onze anos após a sua subida ao poder, uma esmagadora maioria da população continua a procurar refúgio noutros países. E, pasme-se, uma das hipóteses mais ponderadas por estes pobres diabos é a vizinha China. Infelizmente, ainda não existem palavras para descrever as políticas sociais de um líder governamental que é capaz de pôr uma percentagem quase total dos governados a sonhar com uma fuga para essa terra prometida que é a China. Talvez um dia.
Visto que a política social não parece ser o seu forte, Kim parece andar a fazer de tudo para dotar a sua Coreia com um arsenal nuclear de respeito. O diminuto oriental mais parece um daqueles putos enfezados que jogavam muito mal ao berlinde, mas tinham um ‘abafador’ do tamanho de uma bola de básquete e lá ganhavam uns poucos na mítica vertente do ‘abafa’. Só que ele faz isso com bombas.
Como nota mais positiva, as más-línguas dizem que o ditador é um bon-vivant da velha escola, apreciador de conhaque e charutos topo de gama, bem como de louras ocidentais (há outras?), possuindo mesmo um batalhão de strippers sempre à sua disposição. A conclusão que daqui se retira é que Kim Jong Il fez aquilo que qualquer homem com poder faria, e que o regime é tão déspota que as principais críticas que a oposição se sente capaz de fazer assentam em rasgados elogios à sua masculinidade.
Do pouco que se sabe relativamente a outras predilecções, destaque-se o facto de ser um cinéfilo convicto, detentor de uma colecção de mais de vinte mil cassetes de vídeo, e que, por amor à sétima arte, chegou mesmo a ordenar o rapto de uma das mais famosas actrizes e um dos mais conceituados realizadores da inimiga Coreia para melhorar o cinema nacional. Nem me vou dar ao trabalho de juntar mais uns nomes impronunciáveis a este, já de si, pouco conexo texto, mas refira-se que este par foi obrigado a trabalhar num projecto antigo do ditador, ‘Pulgasary’, um filme passado na Coreia feudal que relata a história de um grupo de camponeses que se revoltam contra o pérfido rei e a monarquia corrupta que o sustenta, contando para isso com a preciosa ajuda, e isto é a mais pura das verdades, de uma espécie de Godzilla de lata, que se alimenta de ferro, e ganhou vida através do sangue da filha de um velho ferreiro com poderes. Isto em coreano faz mais sentido do que pode parecer à partida. Assim como assim, as suas películas favoritas são mesmo as sagas de James Bond (num dos últimos, o mau até é norte-coreano e consta que Kim terá ficado pior que estragado), Rambo e ‘Sexta Feira
A verdade é que estamos perante um autêntico homem da renascença, diz ele, que ainda arranja tempo para espalhar classe na música (terá composto seis óperas) e na arquitectura (é-lhe atribuída a idealização de uma torre qualquer lá na terra dele). Já sabemos então, logo à partida e sem confirmar nada, quem é que arrecadou mais discos de platina e tem abocanhado os prémios de arquitectura lá do sítio, tornando também bastante claro que as mesmas fontes que asseguram as qualidades criativas do senhor Kim Jong, serão as primeiras a jurar a pés juntos que ele, entre outros feitos heróicos, foi também o melhor marcador dos últimos 50 campeonatos norte-coreanos de futebol e que uma vez encestou uma bola de costas enquanto metia uma dezena de ursos na linha ao pontapé. Descalço.
Ora, um ego do calibre do do Tarzan Taborda não o vai impedindo de ter as suas inseguranças, e parece que, apesar de tudo, este fulano vive atormentado por uma parafernália de fobias. Medo de voar, paranóia permanente que vai ser envenenado (possui mesmo um batalhão de autómatos para provarem as refeições confeccionadas com produtos importados) e a capacidade de ver germes em todo o lado, são parte integrante da atribulada vida de Kim. É sempre reconfortante descobrir que todos estes extravagantes ditadores seguem à risca a imensidão de estereótipos que se ergueram à sua volta (tal como os homossexuais e os taxistas, só para citar mais dois grupos).
Finalmente, e nem era preciso dizê-lo, o traço mais distintivo de Jong Il reside na sua peculiar imagem. Depois de observarmos com atenção as escolhas do senhor neste campo, o seu consultor de imagem só pode ser adjectivado de duas formas: ou é a pessoa mais incompetente do mundo naquilo que faz, ou o sarcástico com mais coragem do planeta. Bem vistas as coisas, conseguir ter um aspecto mais ridículo que a marioneta criada à sua imagem, acaba por ser um trunfo para Kim: dificilmente será lembrado como um ditador que subjugou o seu povo à miséria e à penúria, mas sim sempre como "aquele chinês pequenino com óculos e um penteado que parecia um ninho de cegonhas".
said...
Bolas, o homem é mesmo pequeno! Avaliando pela foto em que está a beber dum copo de cálice...
Montenegro said...
Dora Rebelo said...
Cada um tem o ar estúpido que merece...
said...
Hilariante, não tenho mais nada a dizer...