Bem, tinha-me esquecido da palavra passe para entrar no blog e por isso é que nunca mais tinha satisfeito a curiosidade de milhões em relação aos melhores brinquedos de sempre e aquilo que algumas pessoas sem coração (e sem qualquer tipo de sensibilidade em relação às preferências pueris) lhes fizeram.
Os meus brinquedos preferidos de sempre são aqueles bonequinhos da Playmobil, vulgarmente conhecidos entre a criançada de então como “playmóbis” ou “clicks”. Em relação ao primeiro vocábulo (de uma originalidade incontestável, sem dúvida), só recentemente vim a saber que se usava para definir os ditos. Não ponho em causa que tal, de facto, acontecesse, mas garanto que a palavra usada por mim e por todos aqueles que alguma vez ouvi referirem-se aos brinquedos em questão (até há bem pouco tempo, entenda-se) era a segunda, “clicks”.
Os clicks (fora com as aspas porque esta é a forma universal de designar os bonecos da Playmobil e acabou!) eram bonecos que, ao contrário dos G.I. Joes, dos Transformers (guerras pré e pós-apocalípticas e inter galácticas com mísseis terra-ar ou lasers) ou dos carrinhos de brincar (corridas e acidentes), não limitava a sua temática logo à partida. Com os clicks podia-se brincar não só a isso, mas também a tudo o resto: aos índios e aos cowboys, aos polícias e aos ladrões, aos piratas, às obras, etc., etc. Havia tudo. Casas de xerifes, barcos de piratas, fortes, renaults 5 de corrida (para quem gostava de se armar em Michel Vaillant), pedreiros com retro escavadoras, betoneiras e picaretas, helicópteros de salvamento. E, embora eu não fosse apologista, havia sempre a possibilidade de misturar tudo. Podia-se estar a meio de uma épica batalha entre piratas e soldados da corte francesa e, de repente, vindo do nada, aparecia o helicóptero de salvamento que afundava um dos barcos (com um míssil que se pedia emprestado aos, há muito encostados, G.I. Joes). E, a qualquer momento, podiam aparecer também os Índios, os pedreiros, enfim, aquilo não acabava e passado uns minutos estavam cinco ou seis putos com milhares de bonecos e respectivos acessórios numa acesa disputa que tinha começado por envolver piratas e soldados da corte, mas que podia muito bem terminar com um duelo entre um Reunalt 5 que andava sozinho e um pedreiro que estava escondido na casa do xerife.
Repararam, com certeza, que todas as temáticas eram fascinantes e sedutoras e, tal como eu, devem estar com uma vontade enorme de ir brincar. Porém, antes de irem saciar a vossa sede, deixem-me actualizar-vos relativamente às novas temáticas (as actuais) dos clicks:
- O Jardim Zoológico! Sim, o Jardim Zoológico. O cenário é medonho. Uma carrinha com um atrelado para levar cangurus bebé (que querido!), uma girafa bebé com um biberão (Mas para que é que caral… bem, adiante), uma banca ambulante de venda de gelados (fingir que se compra gelados é o sonho de qualquer criança), e, basicamente, uma parafernália de animais como ursos polares, orcas, gorilas, e até aqueles pássaros estúpidos do anúncio do Guaraná. Tudo isto complementado com os respectivos tratadores sorridentes e afáveis. Nem uma jaulinha, nem um atirador com dados tranquilizantes para deter um gorila assassino que fugiu e aterroriza a cidade… nada…
- A família de férias! Lembram-se do Reunalt 5 de corrida? Pois bem, agora foi transformado num carro familiar e até dá para levar malas e um chapéu-de-sol no tejadilho. Este belo cenário traz ainda o pai, a mãe, os filhos e até um bóbi, todos juntos no exacto momento em que estão de abalada para férias. Mas que raio de divertimento se pode retirar disto? Parece um quadro ou uma fotografia. As pessoas vão de férias, ponto final! Não vai acontecer nada. E se acontecer o que raio pode fazer uma família armada com um chapéu-de-sol? Não há imaginação que salve este cenário.
- O conto de fadas! É certo que tem um dragão (personagem maligna e detestada em todas as áreas) que queremos aniquilar (logo, há grandes hipóteses de se conseguir engrendar uma espécie de batalha), mas para que raio servem um unicórnio, uma fada ou um bobo da corte? Imaginem que um puto, completamente desesperado, quer brincar com estes clicks. Pega no príncipe e, claro está, vai querer salvar a princesa das garras do dragão. Mas o príncipe precisa de ajuda porque, afinal de contas, não passa de um betinho de collants que se limitou a aproveitar os benefícios absurdos que a consanguinidade lhe garantiu. E que ajuda é que há? O unicórnio (tudo bem, o dragão pode estar longe e o príncipe pode usá-lo como meio de transporte, mas só isso), a fada (transformar abóboras em carroças e empregadas bastardas em princesas boazonas não parece ser grande ajuda perante um dragão) e o bobo da corte (malabarismos com bolas e chapéus com guizos só vão irritar ainda mais o dragão). Pá, desde o Feiticeiro de Oz que não se juntava uma equipa tão merdosa para aviar os maus.
- A quinta! Este já havia, mas o simples facto de ainda não ter sido desintegrada é caso para justificada indignação. Como é que alguém ainda pensa que um celeiro, porcos, galinhas, ovelhas, uma cerca, um monte de feno, uma velha e um velho possam ser o brinquedo ideal para uma criança saudável? Brincar à criação de porcos? Já alguém ouviu um puto dizer isto? “Pai, quero ir brincar à criação de porcos”? Também me parece que não…
E depois há uns bonecos mais ou menos isolados, como o taxista a ler o jornal (tirando as opiniões racistas, a má educação crónica e a apurada apetência para enganar turistas, não estou bem a ver o que raio pode fazer este boneco), uns coelhos enormes assustadores (parecidos com aquele coelho assassino dos Monty Python, mas proporcionalmente muito maiores), o polícia sinaleiro (o semáforo humano, essa nobre profissão), uma freira (tão útil para qualquer brincadeira como uma sequela do Paciente Inglês seria para o mundo do cinema ), ou o índio pequenino, montado num pónei e armado com uma mini-lança (e lá conseguiram voltar com a porcaria dos póneis, esses animais(?) que ninguém sabe bem o que raio são).
Resumindo, agora só há brinquedos de merda. Depois admiram-se quando putos imberbes matam a turma toda, fumam ganzas e tentam violar a Lídia Franco num IP qualquer. Não há nada para fazer…
said...
Epa, quase um ano depois, este post continua a bater todos e quaisquer limite maximo dentro de um (imaginario) expectro de genialidade.