É certo e sabido que os discursos futebolísticos não primam pela originalidade. Parece existir um conjunto de declarações-tipo que qualquer interveniente no mundo da bola (dirigentes não contam porque são adeptos com tempo de antena) tem que debitar quando confrontado pelos jornalistas, sendo que o único factor de variação das mesmas é a unidade temporal em que se produzem. Ora, se nos abstrairmos de todo o circo extra-jogo propriamente dito (euforia benfiquista de pré-época, contratações, etc.), essas unidades temporais conhecem, regra geral, seis dimensões distintas: “Antes do jogo”, “Depois do jogo”, “Depois do jogo que perdemos”,“ Depois do jogo que ganhámos”, “Depois do jogo que perdemos porque o Bruno Paixão é uma besta”, e, finalmente, o “Depois do jogo que perdemos e que provavelmente foi o meu último como treinador” (o que era mesmo giro era ter os equivalentes em Latim destas expressões). Isto pode ir variando um bocadinho conforme as vicissitudes do próprio jogo, mas podem-se destacar estas seis dimensões sem fugir muito à verdade. Assim, consoante a altura em que se produzem as declarações, o orador deverá seguir os trâmites normais do discurso futebolístico clássico. E, José Mourinho e robots que ele manda para as conferências de imprensa à parte, é isto que acontece.
O medo de proferir uma qualquer declaração que possa ser entendida como provocação ou presunção aterroriza qualquer treinador ou jogador, e os efeitos práticos de tal fobia repercutem-se nos seus discursos de forma inegável. Por exemplo, o treinador de futebol nunca tem certezas absolutas sobre nada. Usa sempre o verbo “penso” (que transmite sempre alguma incerteza. Penso eu) para exprimir as suas opiniões. Se diz um “penso que fomos melhores nos primeiros vinte minutos”, tudo bem, uma vez que ter sido o melhor durante determinado período de tempo pode sempre ser discutível, e ele, verdade seja dita, está a transmitir uma opinião que sabe poder ser alvo de contestação. Agora, “penso que marcámos dois golos” e “penso que se ganharmos todos os jogos, somos campeões” parece-me algo descabido.
Lembrei-me disto porque, caso não tenham percebido pelos directos da Avenida dos Aliados (sempre com a versão alternativa do SLB, SLB, SLB de fundo e com emplastro a demonstrar que os seus dotes de omnipresença estão em grande), o Porto ganhou o campeonato. E há lá melhor altura para observar na sua plenitude a regra futebolística do “penso”. Por exemplo, o Maniche não sabe se está feliz com o facto de ter sido campeão. O Maniche “pensa” que está muito feliz.
O medo de proferir uma qualquer declaração que possa ser entendida como provocação ou presunção aterroriza qualquer treinador ou jogador, e os efeitos práticos de tal fobia repercutem-se nos seus discursos de forma inegável. Por exemplo, o treinador de futebol nunca tem certezas absolutas sobre nada. Usa sempre o verbo “penso” (que transmite sempre alguma incerteza. Penso eu) para exprimir as suas opiniões. Se diz um “penso que fomos melhores nos primeiros vinte minutos”, tudo bem, uma vez que ter sido o melhor durante determinado período de tempo pode sempre ser discutível, e ele, verdade seja dita, está a transmitir uma opinião que sabe poder ser alvo de contestação. Agora, “penso que marcámos dois golos” e “penso que se ganharmos todos os jogos, somos campeões” parece-me algo descabido.
Lembrei-me disto porque, caso não tenham percebido pelos directos da Avenida dos Aliados (sempre com a versão alternativa do SLB, SLB, SLB de fundo e com emplastro a demonstrar que os seus dotes de omnipresença estão em grande), o Porto ganhou o campeonato. E há lá melhor altura para observar na sua plenitude a regra futebolística do “penso”. Por exemplo, o Maniche não sabe se está feliz com o facto de ter sido campeão. O Maniche “pensa” que está muito feliz.