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Olhe que não, shô Doutor! Olhe que não...

Verdades absolutas sobre basicamente tudo.
All great truths begin as blasphemies.
Nem mais. Porra. 

6 de março de 2007

A rua















Há alturas em que a minha rua parece uma zona de guerra. Essas alturas podem-se, com absurda propriedade, apelidar de “quase sempre” ou, em termos mais científicos, “às vezes é favor, ò amigo”. Posso começar, como nota introdutória, por antecipar desde já que o racismo, a xenofobia e a intolerância religiosa me chocam. Chocam-me porque não sei como é que é possível detestar as pessoas apenas pela sua cor, nacionalidade ou credos, quando há milhentas razões para detestar as pessoas. A minha rua é uma zona de guerra nesse sentido. Há uma constante guerra de pessoas que me querem enervar, que querem que eu as deteste. Que lutam por isso. O dia na minha rua começa pela paragem num café qualquer. Seja ele qual for, há sempre um gajo que abana o saco do açúcar umas cinquenta vezes a mais que aquilo que é humanamente tolerável. O som dum pacote de açúcar a ser demasiadamente abanado torna-se aflitivo. Fica-se sempre a pensar “bem, o gajo só vai abanar mais esta vez, é impossível ir abanar uma outra vez”. E aquilo só pára quando já está tatuado no cérebro, quando já estamos a pensar se um lança-chamas é coisa para se encontrar numa loja de ferragens e, se sim, se nos emprestarão um só para ir ali ao café fazer uma coisa. Um destes indivíduos que abana muito o pacote de açúcar é normalmente acompanhado por mais dois virtuosos intérpretes dessa arte que é o meter nervos. Um que se insere na mesma família deste primeiro, porque opera ainda na ambiência da bica, e que insiste em mexer o café tantas, mas tantas vezes, que aquilo até faz remoinho. E aquele barulhinho constante da colher a bater na cerâmica da chávena é, para não ser ordinário, enervante com’ò caralho. Foda-se. Curiosamente, o urso que abana muito o pacote, mexe pouco o café, ao passo que o camelo que mexe muito o café, abana pouco o pacote. Curioso, no mínimo. O terceiro espécime, o que completa este maravilhoso trio das sonoridades, é aquele que está a fazer as palavras-cruzadas e carrega neuroticamente na caneta. Neuroticamente significa à volta de 200 cliques por minutos. Parece que a caneta está a ter uma dupla taquicardia. Seja qual for o café que eu escolha, estas três entidades, embora assumindo manifestações físicas diversas, estão sempre lá. A guerrear-se para ver quem enerva mais. Na rua, pode-se afirmar que, e recorrendo a um metaforismo excepcional, se as coisas que enervam forem encaradas como balas, está-se sob o maior fogo cruzado de que alguma vez há registo. Posso até destacar duas entidades que parece que fazem plantão na minha rua, a disparar feitos parvinhos. Por exemplo, o monhé que, todos os dias, me quer oferecer um panfleto do restaurante indiano que vende comida de basicamente todo o lado. É um monhé especialmente caricato porque veste sempre toilettes 100% ganga. Calça, casaco e camisa. Já o vi de chapéu de ganga e tudo, mas deve-o ter perdido, que já há uns tempos que não o usa. Todos os dias ele me tenta dar um panfleto e eu, todos os dias, abro os braços e faço uma expressão de “foda-se, Apu, eu moro aqui, porra! Temos que passar todos os dias por isto?”. Não vale de nada. É estar a abrir os braços e fazer expressões para o boneco. Depois, temos o pessoal das pranchetas. Para quem não é muito versado nesta coisa das coisas e afins, uma prancheta é um utensílio, quase sempre em cartão ou plástico rançoso, que permite colocar sobre si uma folha de papel e escrever sobre esta última. Muitas vezes tem até uma bodega em ferro que permite segurar a folha, para impedir que esta caia ou saia a esvoaçar. Definida a coisa, por certo que ninguém arrebitará cachimbo quando se disser que nunca, em qualquer ponto do planeta, alguém se sentiu melhor ou pensou que valeu a pena depois de ter sido abordado por um indivíduo com uma prancheta. Na minha rua há sempre pelo menos um destes. Driblá-los é lixado, mas eu sou o George Best desta cena. Seja como for, cansa. Também cansava o Best. E enerva. Oh, se enerva. Sobretudo quando os gajos nos tentam encurralar. Ou quando eles correm. Sim, porque se eu sou o Georgie Best do drible a pessoal das pranchetas, há deles que são o Hans-Peter Briegel. Correm e lutam. Saturam o alvo. Já houve bastas ocasiões em que, ultrapassado este cenário de guerra, constato que me havia esquecido de algo imprescindível em casa. Sorte a minha que nunca calças e coisas dessas. Mas, ainda assim, coisas que m’obrigam a voltar. E voltar significa ter que fintar as pranchetas e ter que manifestar o meu desagrado mudo ao monhé da ganga mais duas vezes. É um castigo demasiado cruel para um pobre homem cujo único pecado foi ter-se esquecido de algo em casa. Numa dessas ocasiões, enquanto metia a chave na ranhura, presenciei mítica interacção entre António Feio e um utente de esplanada. Após confirmar com um seu companheiro se seria mesmo o actor quem tinha acabado de entrar, o utente de esplanada, quando Tó Feio saia do café, dispara um “Eh pá, és mesmo feio”. Ao que António Feio, habituado a estas andanças do dar satisfações ao público que o idolatra, responde com um “Sou feio, mas tu és parvo”. A próxima tirada sai do lado do utente de esplanada. Diz ele que “Pois, mas és feio”. António Feio, durante toda este intercâmbio argumentativo, nunca abrandou sequer o passo, virando apenas a cabeça para responder ao utente. Depois do “Pois, mas és feio”, Tó envia um “E tu és parvo”. Neste momento, a interacção entra num período de loop. De um lado o “mas és feio”, do outro o “mas és parvo”. Isto até o argumento de António Feio, em progressivo fade-out, se ter desvanecido por completo. O utente, olhando em volta, sorriu, como que procurando felicitações alheias. Esperei que ele olhasse para mim e disse: “quem era aquele?”. Antes que ele tivesse tempo de responder, meti-me dentro do prédio. Não se pode dar trela a esta gentalha.


Blogger Ricardo Lobo said...

Muito bom, George Best. Muito bom...  


Blogger Filipe Pereira said...

És lisboeta?  


Blogger Netwalker said...

Se a tua Rua "entrar" em obras então será a faxa de Gaza perfeita!  


Blogger Sacrilegius said...

De certeza que é lisboeta.
Para se vir lamentar aqui desta maneira, está bem de ver que é.
Se fosse de outra terra qualquer, sei lá, Reguengos ou Oliveira de Frades, ou vá lá, Pessegueiro do Vouga até, resolvia a coisa de outra maneira. Amanhava dois crencos no focinho a cada personagem dessas, e ficava a coisa resolvida.
Por isso é que só em Lisboa é que acontecem essas coisas.  


Anonymous Anónimo said...

Muito bom e tudo isso, como de costume.
Mas não queres considerar o uso de parágrafos? É que assim não é uma leitura nada agradável à vista...  


Blogger J. Salinas said...

Mas eu já uso parágrafos. Por exemplo, neste texto, usei um parágrafo grande.  


Blogger Zebedeu said...

E quando as ruas parecem um campo de minas q esperam q nós as pisemos para limparmos num tapete qq de um prédio. Às vezes fico a olhar para a figura das pessoas que pisam as minas (sentido figurado de merda de cães) a esfregar o pé no chão ou em um montinho de erva, na esquina ou mesmo agarrar no jornal do dia q compraram há 15 minutos e limpar a sola do sapato. De qualquer das maneiras Boa "verdade absoluta"  


Anonymous Anónimo said...

Eu por acaso sou daqueles que abana o pacote de açucar um número infindável de vezes e, para contrariar a teoria do respeitável autor, também mexo o café o mesmo número infindável de vezes, o que fará de mim um urso-camelo. Não acho coisa simpática de se chamar a alguém...  


Anonymous Anónimo said...

Eu so quero dizer que volta e meia este blog, (e o antiquissimo post do expresso da Rodoviaria em particular), me coloca perante um grave problema. Nao sera tanto volta e meia, talvez mais de quando em quando. Seja como for, isto nao eh coisa que uma pessoa goste de admitir perante terceiros. Como manter a compostura profissional enquanto se le estas merdas?! Eh que ja estou farta de, enquanto rio pra dentro como uma desvairada, ser apanhada por alguem a esbocar um tenue sorriso virada para o computador, sorriso esse que transformo logo num esgar de dor ou de assombro, conforme finjo que tou com dores de cabeca ou que nao acredito no email que acabo do ler do palerma do Murphy que pensa que vai chegar a chefe so porque tem "ideias" (dobrar o indicador e o dedo medio de ambas as maos para maior intensidade dramatica). Sinceramente, chateia-me pa. Uma pessoa tem a sua etica.  


Blogger O Palerma said...

Essa coisa de "abanar o pacote" cheira-me a Conde Redondo.  


Anonymous Anónimo said...

Eu evito ler estes comentarios, fico-me so pela leitura dos posts. Grande Pedro! ...voltar a casa e encontrar a mesma malta enervante, catano! tens razão, é fodido!...
ZoT  


Blogger Nuno Costa said...

"O utente, olhando em volta, sorriu, como que procurando felicitações alheias."
Ahahahahahah tou mesmo a imaginar a cara do tipo todo gingão... Não havia lá ninguem pra lhe chamar palhaço?  


Anonymous Anónimo said...

nao li o texto mas se ta la é porke é bm...
se formos a ver kualker desabafo é bom...
desde que nao seja daqueles dos malukos ou ditadores....~
o ke keru dizer é k gost d todos
e todas as ruas tem um bokadinho d guerra nas suas extensoes..temos é k ter kuidado...
nao va saltar nenhuma bomba sem termos kulpa dela...
é ist k penso..
vive kada dia
km se fosse o ultimo e ao maximo!!!!  


Anonymous Anónimo said...

Pessoal das pranchetas é foda mesmo!
Na minha rua não ha´monhés mas rara é a semana que não andam lá ,sempre em parelhas, como abutres os tipo da Remas , ou Patriache, ou Acordar de Novo, ou Acreditar de Novo ou mesmo free-agentes que já não estão nestas associações mas ainda têm panfletos e andam a trabalhar pró saco azul.

Em relação ao António Feio ouvi por fonte segura (pessoal do teatro e isso de artistas e cenas) que o gajo é pandu ... ironico quando ele fazia akele programa (já não me lembro o nome onde bebiam sempre canecas de cerveja só havia homens na plateia e no fim era sempre gajas boas a saltar no trampolim)  


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